Foca bebé. Foto: Ruvim Mikanskiy/Unsplash

A trabalhar para saber como estão os nossos mamíferos

O projeto

O que é o Livro Vermelho

O Livro Vermelho é um documento público criado para registar espécies raras e ameaçadas de plantas e animais, e algumas subespécies locais, presentes numa região específica.

Para que serve?

Para classificar as espécies silvestres que utilizam um território, em função do seu risco de extinção, num dado período de tempo. 

As avaliações informam decisões em matéria de política de conservação da natureza e catalizam, em geral, projectos e ações direccionadas à preservação da biodiversidade. A avaliação pode ser feita a nível global e regional (por países ou regiões) e é uma ferramenta importante que informa sobre a distribuição, tamanho populacional, habitat e ecologia, usos e ameaças das espécies.

A cada espécie é atribuída uma categoria, de acordo com o risco de extinção que enfrentam: Criticamente Em Perigo, Em Perigo, Vulnerável, por exemplo. Estas categorias baseiam-se nos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), que se aplicam a todas espécies. Assim é possível comparar situações análogas e, em qualquer momento em que haja melhor informação disponível, atualizar os estatutos de ameaça.

Além da atribuição de uma categoria, para cada espécie são identificados os fatores de ameaça e as medidas de conservação consideradas necessárias.

É, por isso, um instrumento crucial para ajudar a decidir prioridades e medidas de conservação. É também uma chamada de atenção para as espécies que podemos estar a perder.

Desde quando se fazem Livros Vermelhos para as espécies?

É de 1966 o primeiro Livro Vermelho dos Mamíferos, publicado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Em Portugal, os primeiros Livros Vermelhos datam da década de 90 e foram dirigidos aos vertebrados: mamíferos, aves, répteis e anfíbios (Vol. I, 1990), peixes dulciaquícolas e migradores (Vol. II, 1991) e, finalmente, peixes marinhos e estuarinos (Vol. III, 1993).

Para estes Livros Vermelhos foi lançado um desafio à comunidade científica, pelo então Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza (SNPRCN, antecessor do atual Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, ICNF).

Com efeito, o SNPRCN conseguiu reunir especialistas das várias universidades portuguesas, numa iniciativa inédita, tendo-se munido da melhor informação disponível do ponto de vista biológico, base para uma avaliação adequada e feita em conjunto. Dessas primeiras obras resultou a primeira identificação das espécies consideradas ameaçadas em Portugal.

A segunda avaliação dos vertebrados em Portugal foi retomada em 2001, sob coordenação do então Instituto de Conservação da Natureza (ICN).  Até à edição do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, em 2005, e para além de se ter realizado um grande esforço de compilação da informação científica mais atual, promoveram-se trabalhos dirigidos a espécies consideradas prioritárias ou cujas lacunas de informação dificultavam a atribuição de categorias de ameaça.

São exemplos desses trabalhos a “Inventariação das espécies piscícolas dulciaquícolas na bacia do Douro, Madeira, 2002”, “A clarificação da taxonomia do tritão marmorado (Triturus marmoratus) em Portugal, Themudo e Ferrand de Almeida, 2002” ou a “Distribuição de Arvicola terrestris em Portugal, Mathias e Santos, 2003”.

O Livro Vermelho publicado em 2005 abrangeu 551 espécies de mamíferos, aves, peixes dulciaquícolas e migradores, anfíbios e répteis. Avaliou 74 espécies de mamíferos no Continente, 18 nos Açores e 16 na Madeira.

Quais são as categorias de um Livro Vermelho?

E quais são os critérios que definem essas categorias?

Quais são as espécies de mamíferos mais ameaçadas até agora?

Segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, de 2005, as espécies mais ameaçadas eram o lince-ibérico (Lynx pardinus), a cabra-montês (Capra pyrenaica), o morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale), o morcego-de-ferradura-mourisco (Rhinolophus mehelyi) e o morcego-rato-pequeno (Myotis blythii), as 5 Criticamente Em Perigo.

Cabra-montês. Foto: Francisco Álvares

Na categoria Em Perigo estavam o lobo (Canis lupus), o morcego de Bechstein (Myotis bechsteinii) e a baleia-comum (Balaenoptera physalus). Em Dezembro de 2019, a UICN reviu também o estatuto do coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) nas suas áreas nativas, que era considerado Quase Ameaçado, para Em Perigo.

Coelho-bravo. Foto: Sarah Bliss / Unsplash

Quais são as maiores ameaças que enfrentam?

De uma forma geral, os mamíferos estão ameaçados pela degradação e perda de habitat. Mas há ameaças mais específicas, como por exemplo:

Os mamíferos insetívoros e roedores semi-aquáticos sofrem com as mudanças nos cursos de água, como a construção de barragens, e com a fraca qualidade da água.

Barragem de Castelo do Bode. Foto: LuisPinaPhotography/Shutterstock

Muitos carnívoros são ameaçados pela fragmentação dos seus habitats, reduzida abundância de presas, atropelamentos e abate ilegal.

Os morcegos cavernícolas sofrem com a perturbação dos seus locais de abrigo e nalguns casos com a falta de áreas de alimentação de qualidade na proximidade destes.

Alguns pequenos cetáceos apresentam um nível elevado de mortalidade devido a capturas acidentais em artes de pesca. Além disso, as suas populações estão a ser afetadas por diversos tipos de poluição, incluindo o lixo marinho. A ingestão de lixo marinho é uma ameaça importante principalmente para as espécies de cetáceos que realizam mergulhos profundos.

Captura acidental de golfinho-comum em redes de emalhar. Foto: Filipe Leigo/Polícia Marítima

Outras ameaças são os agentes patogénicos e a ocorrência de espécies exóticas que podem causar nas espécies nativas predação excessiva, competição e hibridação.

Porque precisamos do Livro Vermelho?

A informação que temos sobre os estatutos de ameaça dos mamíferos de Portugal Continental é de 2005, quando foi publicado o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Já está, por isso, desactualizada.

Actualmente pensa-se que, para algumas espécies, o risco de ameaça ou mesmo de extinção pode ter-se acentuado nos últimos 15 anos. Como é o caso da toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus) e do boto (Phocoena phocoena).

Boto. Foto: Shutterstock

Desde 2005 foram registadas 12 espécies novas em território português. No grupo de mamíferos terrestres, registou-se a ocorrência do rato-das-neves (Chionomys nivalis), do morcego-hortelão-claro (Eptesicus isabellinus), do morcego-de-bigodes de Alcathoe (Myotis alcathoe) e do morcego-de-franja-críptico (Myotis crypticus).

Rato-das-neves. Foto: Gonçalo Rosa

Entre os mamíferos marinhos, foram confirmadas como espécies novas para Portugal Continental a baleia de Bryde (Balaenoptera edeni), o golfinho de Fraser (Lagenodelphis hosei), o golfinho-de-laterais-brancas do Atlântico (Lagenorhynchus acutus), o golfinho-de-bico-branco (Lagenorhynchus albirostris), o golfinho-malhado do Atlântico (Stenella frontalis), o cachalote-anão (Kogia sima), a baleia-de-bico de Sowerby (Mesoplodon bidens) e a baleia-de-bico de True (Mesoplodon mirus).

Baleia de Bryde. Foto: Morningdew/Wiki Commons

Há também espécies cuja situação taxonómica foi alterada. Considera-se atualmente que em Portugal ocorre o morcego-de-franja do Sul (Myotis escalerai) em vez de Myotis nattereri. E, em 2017, confirmou-se o rato-do-campo-de-cauda-curta em Portugal (Microtus agrestis) como uma espécie distinta, rato-do-campo lusitano (Microtus rozianus), passando esta espécie a substituir a anterior.

Além disso, a avaliação feita em 2005 não conseguiu recolher informação suficiente para avaliar o risco de extinção de cerca de um quarto das espécies. Estes mamíferos não tiveram, e ainda não têm, um estatuto de ameaça atribuído por falta de informação. Atualmente ainda subsistem 21 espécies com Informação Insuficiente (DD), lacunas que esperamos conseguir colmatar neste projeto. Acreditamos que este trabalho é fundamental para melhorarmos o estatuto de ameaça dos mamíferos em Portugal.

“A elaboração de Listas Vermelhas é fundamental para uma gestão activa e eficiente das espécies e dos habitats, sendo globalmente reconhecidas como um instrumento importante pelos gestores, comunidade científica e público em geral”, sublinha Maria da Luz Mathias, coordenadora geral do projeto.

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