Corço (Capreolus capreolus) detetado numa plantação jovem de eucalipto do centro de Portugal. Foto: WildForests

A trabalhar para saber como estão os nossos mamíferos

WildForests monitoriza mamíferos não voadores na região Centro

Quando pensamos em ambientes florestais de produção, nomeadamente em eucaliptais, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a de um sistema antrópico focado na produção de madeira para o fabrico de pasta e papel, onde os valores de biodiversidade são escassos ou inexistentes.

Esta assunção é generalizada, abrangendo diversos níveis da diversidade biológica, incluindo os mamíferos.

No entanto, e apesar de Portugal ter a maior área de plantação de eucalipto da Europa, e proporcionalmente à dimensão do país, uma das maiores do mundo, o real impacto destas plantações nos mamíferos é grandemente desconhecido.

Eucaliptal na zona centro de Portugal onde o projeto WildForests está a ser implementado - © WildForests
Eucaliptal na zona centro de Portugal onde o projeto WildForests está a ser implementado. Foto: WildForests

A completa ausência de dados cientificamente válidos e espacialmente robustos relativos aos padrões de uso dos eucaliptais por mamíferos terrestres, e aos determinantes ambientais desse uso, limita a definição de planos de gestão para compatibilizar a produção com a preservação de valores naturais.

Norteado por esta lacuna de conhecimento surgiu, em 2018, o projeto “WildForest – Conservação de vida silvestre e florestas de produção: necessidade de uma relação bidirecional em paisagens sustentáveis”, que tem como objetivos: 1) avaliar o potencial das plantações de eucalipto como ferramentas complementares de conservação geridas de forma sustentável; e 2) aferir o papel dos mamíferos na manutenção de plantações de eucalipto sustentáveis, certificadas e ecologicamente funcionais.

Fuinha (Martes foina) fotografada num Eucaliptal do centro de Portugal - © WildForests
Fuinha (Martes foina) fotografada num Eucaliptal do centro de Portugal. Foto: WildForests

O projeto – implementado por um consórcio que integra a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Universidade de Aveiro e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) – baseia-se essencialmente na monitorização da comunidade de mamíferos não voadores com recurso a técnicas de armadilhagem fotográfica (i.e. fotografia automática acionada por sensores de movimento/calor).

O trabalho do WildForests foca-se na região centro de Portugal e abrange áreas de eucaliptal (seis sítios localizados nos concelhos de Penamacor, Góis, Pampilhosa da Serra e Mortágua) e zonas naturais (duas zonas nos concelhos da Lousã e Penamacor), e conta com o apoio logístico da The Navigator Company.

O projeto confirmou que um número apreciável de espécies usa os eucaliptais, que compreendem diversos grupos taxonómicos, incluindo ungulados (javali, corço, veado e gamo), carnívoros (raposa, fuinha, texugo, geneta e sacarrabos), herbívoros de pequeno tamanho (coelho e lebre), roedores (ex. esquilo-vermelho e ratos) e insectívoros (musaranhos e ouriço cacheiro).

Javalis capturados numa armadilha fotográfica instalado num eucaliptal do centro de Portugal - © WildForests
Javalis (Sus scrofa) capturados numa armadilha fotográfica instalado num eucaliptal do centro de Portugal. Foto: WildForests

O elevado número de fotografias obtido (> 2276 fotografias independentes; i.e. > 30m de intervalo), permitiu verificar que, apesar de usarem os eucaliptais, muitas destas espécies têm abundâncias mais elevadas nas zonas naturais, o que indicia que os eucaliptais não são os habitats preferidos destes mamíferos. No entanto, atendendo a que o objetivo destas áreas é a produção intensiva e não a conservação da biodiversidade, a verdade é que um número razoável de espécies usa estes sistemas alterados. Isto leva-nos a pensar que se os mesmos forem geridos de uma forma sustentável podem ter um papel complementar na conservação de algumas espécies de mamíferos e assim gerar serviços de ecossistemas.

Raposa (Vulpes vulpes) detetada nas armadilhas fotográficas instaladas num área de Eucaliptal do centro de Portugal - © WildForests
Raposa (Vulpes vulpes) detetada nas armadilhas fotográficas instaladas num área de Eucaliptal do centro de Portugal. Foto: WildForests

Esta elevada produção de informação que foi gerada no decorrer do WildForests permitiu fornecer ao projeto de Revisão do Livro Vermelho de Mamíferos de Portugal um conjunto considerável de dados que ajudará a atualizar o estatuto de ameaça e o estado de conservação, mas também obter uma distribuição mais real dos mamíferos terrestres no território nacional.


Autores:

Carlos Fonseca (IR, CESAM/UA/ForestWISE), é o coordenador do projecto, professor Associado com Agregação da Universidade de Aveiro, investigador do CESAM, CTO do Laboratório Colaborativo ForestWISE, e especialista na gestão e conservação de ungulados.

Luís Miguel Rosalino é o co-coordenador do projecto, professor Auxiliar Convidado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, investigador do cE3c, especialista na gestão e conservação de carnívoros e perito convidado do projecto.

Daniela Teixeira é estudante de Doutoramento da Universidade de Aveiro, investigadora do CESAM e membro da equipa do projecto WildForests, com particular interesse no estudo dos mamíferos carnívoros.

Nuno Negrões é investigador da Universidade de Aveiro e do CESAM, membro da equipa do projecto WildForests e especialista na gestão e conservação de carnívoros.

O WildForests (ref.POCI-01-0145-FEDER-028204) é suportado financeiramente pelo FEDER, através do COMPETE2020 – Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI), e por fundos nacionais (OE), através da FCT/MCTES.

Beneficiário

Parceiro

Cofinanciamento

Cofinanciamento

Cofinanciamento

Cofinanciamento