Rato-das-neves. Foto: Gonçalo Rosa

A trabalhar para saber como estão os nossos mamíferos

Mais de 3000 registos de pequenos mamíferos no Alentejo e Algarve

(SETEMBRO/2020) As amostragens de pequenos mamíferos no Alentejo e no Algarve, que foram as regiões onde este trabalho teve início, em Novembro de 2019, já totalizaram até ao momento mais de 3000 registos de pelo menos 13 espécies.

Os mamíferos de pequeno porte incluem espécies das ordens dos roedores (Rodentia), insectívoros (Eulipothyphla) e coelhos e lebres (Lagomorpha). O trabalho de campo dedicado a este grupo, realizado em todo o território de Portugal Continental, tem conclusão prevista para o início de 2021.

Envolvida neste trabalho está uma equipa de especialistas de várias universidades (Évora, Lisboa, Porto, Trás-os-Montes e Alto Douro), que trabalham em estreita colaboração com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, com destaque para a atuação do corpo de Vigilantes da Natureza.

“Muitas espécies deste grupo são elementos chave dos ecossistemas que promovem o arejamento do solo, a dispersão de sementes e o transporte de nutrientes”, lembra o investigador António Mira, coordenador da equipa dos Pequenos Mamíferos e ligado à Universidade de Évora, que sublinha que  “o pequeno tamanho destes mamíferos torna-os imperceptíveis e o público em geral acha que são todos iguais”. “Descobrir que não é assim, estudar as diferenças e mostrá-las ao mundo de uma forma que as pessoas entendam, é simultaneamente o maior desafio e o maior fascínio associados ao estudo destes animais.”

No trabalho de campo, os cientistas estão a recorrer a três métodos não-invasivos complementares: análise de dieta de coruja-das-torres (Tyto alba), amostragem de indícios de presença, como excrementos e túneis na vegetação e colocação de dispositivos que não capturam animais mas onde alguns pelos dos mesmos ficam colados (armadilhas de pelo), permitindo posteriormente a identificação da espécie baseada em análises morfológicas ou genéticas. 

A análise de dieta de coruja-das-torres é o método de amostragem preferencial. As corujas-das-torres, tal como outras aves de rapina, ingerem as presas inteiras ou em partes e não as mastigam. Passadas várias horas, as partes que não foram digeridas, como pelos e ossos, são regurgitadas  na forma de blocos ovais e compactos, designados por regurgitações.

Coruja-das-torres. Foto: Alun Williams/Wiki Commons

A análise destas regurgitações garante abundância de dados para uma grande diversidade de espécies, incluindo o musaranho-anão-de-dentes-vermelhos (Sorex minutus), o musaranho-de-dentes-vermelhos (Sorex granarius), o rato de Cabrera (Microtus cabrerae), o rato-dos-prados (Microtus arvalis), o rato-das-neves (Chionomys nivalis), o leirão (Eliomys quercinus) e as restantes  espécies classificadas como Pouco Preocupantes.

Nas quadrículas onde não é possível encontrar regurgitações de coruja-das-torres, a equipa está a recorrer a armadilhas de pelo.

Recolha de material biológico de armadilha de pelo. Foto: Denis Medinas

Paralelamente, em todas as quadrículas estão a realizar-se transectos de amostragem de indícios de presença em percursos pedestres pré-definidos. Este é um método complementar aos primeiros dois, de forma a detectar espécies que apresentam indícios típicos, como o rato de Cabrera ou a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), ou então espécies que, por exemplo pelas suas dimensões, são dificilmente predadas pela coruja-das-torres. São os casos do rato-de-água (Arvicola sapidus) e dos lagomorfos.   

Montículo, indício de presença de rato-cego-mediterrânico (Microtus duodecimcostatus). Foto: Denis Medinas

As áreas onde se estão a fazer amostragens incidem sobretudo nos Sitios de Interesse Comunitário (SIC) e Zonas Especiais de Conservação (ZECs), com mais de 100 hectares, num total de 58 áreas distribuídas de norte a sul de Portugal Continental, e que fazem parte da Rede Natura 2000.

A equipa está também a considerar outras áreas que tenham interesse particular, por exemplo face à distribuição das espécies consideradas prioritárias neste projeto, como é o caso do rato de Cabrera e da toupeira-de-água. As amostragens realizam-se com base em quadrículas 10 x 10 km, totalizando 115 quadrículas em todo o território continental (102 dentro da rede natura 2000 e 13 fora). 

Beneficiário

Parceiro

Cofinanciamento

Cofinanciamento

Cofinanciamento

Cofinanciamento