Rato-de-Cabrera (Microtus cabrerae). Foto: Rita Brito

A trabalhar para saber como estão os nossos mamíferos

Espécies do Livro Vermelho: Curiosidades sobre o rato-de-Cabrera

O rato-de-Cabrera (Microtus cabrerae), que ocorre em áreas agrícolas e sistemas agro-silvo-pastoris, é um mamífero ameaçado de extinção. Aprenda mais sobre esta espécie.

Quanto medem e pesam

A cabeça e o corpo dos ratos-de-Cabrera têm um comprimento total de 10 a 13,5 centímetros. Já a cauda mede entre 3 e 5,2 centímetros.

Quanto ao peso, varia entre 30 e 78 gramas.

O que comem

Estes ratos são herbívoros. Alimentam-se sobretudo de folhas, caules e sementes de plantas monocotiledóneas das famílias das gramíneas, ciperáceas e juncáceas.

… e que animais é que os comem

Podem ser predados por praticamente qualquer predador de pequeno ou médio porte, incluindo ofídios (cobras), aves de rapina e mamíferos carnívoros.

Onde vivem

Ocorrem em áreas agrícolas e sistemas agro-silvo-pastoris, estando normalmente restritos a pequenas parcelas de habitat com elevada humidade no solo, que suportam uma vegetação herbácea bem desenvolvida e que se mantêm verdes durante grande parte do ano, proporcionando alimento e proteção contra predadores.

Estes habitats estão normalmente associados a elementos singulares da paisagem, tais como pequenas depressões, linhas de água, lagoas temporárias, bermas de estrada, valas de drenagem, separadores de campos, etc. 

Quantos anos vivem

Os cientistas ainda não obtiveram esses dados para esta espécie, mas poderá ser entre um a dois anos.

Quantas ninhadas têm por ano e quanto tempo dura a gestação

Não é certo o número de ninhadas por ano, mas o número de crias por ninhada é de três a cinco. Já a gestação dura 23 a 24 dias.

Onde se podem encontrar em Portugal

A espécie está distribuída ao longo de uma faixa que atravessa o país desde o Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina até ao Nordeste Transmontano, e que inclui as zonas bioclimáticas termo, meso e supramediterrânicas. Apresenta uma distribuição bastante fragmentada, relacionada com as suas especificidades ao nível do habitat.

O que nos fascina e surpreende nesta espécie

O rato de Cabrera tem várias particularidades que o tornam único, não só do ponto de vista taxonómico e evolutivo, mas também do ponto de vista biológico, ecológico ou de conservação. É a única espécie pertencente ao subgénero Iberomys, que diferencia uma linha evolutiva anagenética dentro do género Microtus. Isso significa que a evolução ocorreu com o aparecimento de várias espécies que se sucederam no tempo, sem haver qualquer ramificação da linha.

Outras características bastante particulares incluem o facto de, ao contrário da maioria dos mamíferos, ser uma espécie com hábitos mais diurnos, sendo também um dos poucos mamíferos com um sistema de acasalamento predominantemente monogâmico, no qual ambos os progenitores prestam cuidados parentais às suas crias. Para além disso, o rato de Cabrera é atualmente reconhecido como um bom exemplo ilustrativo de estruturas e dinâmicas metapopulacionais em mamíferos.

Do ponto de vista da conservação, destaca-se por ser o único roedor endémico da Península Ibérica que tem atualmente um estatuto de ameaça, neste caso ‘Vulnerável’ em Portugal (‘quase-ameaçado’ a nível global), figurando nos anexos II e IV da Diretiva Habitats.  

Que papel tem na manutenção de ecossistemas saudáveis

Tal como outros mamíferos de pequeno porte, o rato-de-Cabrera tem um papel fundamental no funcionamento dos ecossistemas. Não só pela sua posição nas cadeias tróficas, em que é presa de muitas espécies de rapinas e carnívoros, mas também pelas importantes funções que poderá exercer na oxigenação e permeabilização dos solos ou na dispersão de sementes.


Autor: Ricardo Pita

Ricardo Pita é membro da equipa do projecto do Livro Vermelho dos Mamiferos​. É investigador na equipa da Unidade de Biologia da Conservação (UBC) e do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora (EU) nos domínios da ecologia e conservação de vertebrados terrestres, com particular interesse no grupo dos pequenos mamíferos.”

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