Rato de água (Arvicola sapidus). Foto: Ricardo Pita

A trabalhar para saber como estão os nossos mamíferos

Espécies do Livro Vermelho: Curiosidades sobre o rato-de-água

Acredita-se que o rato de água (Arvicola sapidus), presa para inúmeras espécies, ocorre por todo o território de Portugal Continental.

Quanto mede e pesa o rato de água

O comprimento da cabeça e do corpo, em conjunto, varia entre 17 e 23 centímetros. Quanto à cauda, mede entre 10 a 14,7 centímetros de comprimento. Já o peso destes pequenos mamíferos pode ir dos 140 aos 310 gramas.

O que come

É um animal herbívoro. Alimenta-se principalmente de talos e folhas de espécies vegetais que crescem nas margens de cursos de água e lagoas, sobretudo tifáceas, ciperáceas e gramíneas. No entanto, pode também consumir secundariamente presas animais, como insectos, caranguejos e pequenos peixes e anfíbios.  

Habitat típico do rato de água. Foto: Ricardo Pita

…e que animais é que o comem

Os principais predadores do rato de água incluem a lontra e outros mesocarnívoros como a geneta, a raposa, o sacarrabos, o toirão, o gato-bravo, a fuinha e o visão americano. Entre as aves, são também seus predadores a garça-real, a cegonha, e aves de rapina como a águia-de-bonelli ou a águia-calçada. Embora menos frequentemente, pode também ser presa de outras rapinas como a coruja-das-torres, a coruja-do-mato, o mocho-galego, ou o bufo-real. Apesar das suas dimensões corporais grandes relativamente a outros mamíferos de pequeno porte, a espécie pode ser também ocasionalmente predada por cobras e víboras, como a cobra-de-água-viperina e a víbora-cornuda.

Onde vive e por quantos anos

É considerada uma espécie semiaquática, normalmente associada à presença de água, habitando margens de pequenos cursos ou massas de água estável com vegetação herbácea e arbustiva desenvolvidas, que lhe conferem alimento e protecção. Este mamífero prefere as margens pouco declivosas e com solos de textura suave que lhe permitem escavar tocas e galerias. No entanto pode também ocorrer em zonas húmidas sem presença de água superficial, incluindo lagoas secas e prados húmidos.  

O rato de água pode viver entre um e quatro anos.

Foto: Ricardo Pita

Quantas ninhadas tem por ano e com quantas crias

Pode ter até sete ninhadas por ano, com um número de crias por ninhada que pode variar entre um a seis. 

Já o tempo de gestação demora entre 21 e 22 dias.

Onde se pode encontrar em Portugal?

A distribuição desta espécie a nível nacional não é ainda bem conhecida, embora os dados existentes apontem para a sua ocorrência por todo o território de Portugal Continental, ainda que de forma descontínua e com subpopulações mais ou menos isoladas, como resultado das suas especificidades ao nível do habitat.

O que nos fascina e surpreende nesta espécie

O rato-de-água é um excelente nadador, podendo permanecer vários minutos debaixo de água. Vive em pequenos grupos familiares, podendo atingir uma densidade em habitats lineares de cerca de cinco indivíduos por cada 100 metros. As fêmeas com crias podem adoptar comportamentos mais agressivos, incluindo face a alguns dos seus predadores naturais, como cobras e serpentes.

A par do rato de Cabrera, com qual pode partilhar alguns tipos de habitats menos alagados, esta espécie apresenta um padrão de distribuição metapopulacional. A sua distribuição está restrita à Península Ibérica e parte de França, tendo um estatuto de ameaça de Vulnerável ao nível global. Embora em Portugal o seu estatuto actual seja Pouco Preocupante, suspeita-se que à semelhança do que acontece em Espanha e França as suas populações possam estar em declínio acentuado – não só devido à perda e fragmentação do habitat, mas também à predação pelo visão-americano, espécie exótica que se encontra em expansão no Norte de Portugal.

Qual é o seu papel na manutenção de ecossistemas saudáveis

Pela posição que ocupa nas cadeias tróficas (cadeias alimentares), o rato-de-água tem um papel fundamental no funcionamento dos ecossistemas. Desempenha também funções ao nível da permeabilização e oxigenação dos solos e na dispersão de sementes.

Além disso, embora não sejam conhecidos os impactos da poluição transportada pela água (pesticidas, metais pesados, etc.), é provável que esta espécie se associe a águas com baixa contaminação, uma vez que águas mais poluídas normalmente atraem a ratazana-castanha, as quais poderão excluir o rato-de-água por competição. 


Autoria: Ricardo Pita

Ricardo Pita é membro da equipa da Unidade de Biologia da Conservação (UBC) e investigador do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento (MED) da Universidade de Évora (EU) nos domínios da ecologia e conservação de vertebrados terrestres, com particular interesse no grupo dos pequenos mamíferos.

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