Morcego-de-savi (Hypsugo savii). Foto: ©Paulo Barros

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Espécies do Livro Vermelho: Curiosidades sobre o morcego-de-savi

O morcego-de-savi (Hypsugo savii) ocorre principalmente nas áreas montanhosas do Norte e Centro de Portugal, onde caça habitualmente em voo alto, acima dos 100 metros.

Como se faz a identificação desta espécie

Esta espécie foi originalmente descrita como pertencendo ao género Vespertilio, mas foi posteriormente incluída no género Pipistrellus devido às suas similitudes morfológicas com as espécies deste género. Finalmente, tendo em consideração algumas características bioquímicas e morfológicas, nomeadamente a morfologia do pénis e mais recentemente genéticas, confirmou-se tratar-se de uma espécie do género Hypsugo.

Morfologicamente, o morcego-de-savi é uma espécie de tamanho pequeno e de coloração muito variável. A maioria dos indivíduos apresenta dorsalmente uma pelagem longa de cor castanha ou preta com as pontas douradas ou amareladas, contrastando com a cor branca ou amarelo-esbranquiçada que apresenta na zona ventral.

Tem orelhas curtas com um trago muito parecido com os dos géneros Pipistrellus e Eptesicus. As partes desprovidas de pelo (cara, orelhas e membranas alares) são de cor negra. As últimas vértebras sobressaem quatro a cinco milímetros do uropátagio. O pénis (característica distintiva), frequentemente bicolor, é pequeno e alarga na parte distal, apresentando uma curvatura angular reta. 

Foto: ©Paulo Barros

Quais são as suas dimensões

Os dados de indivíduos capturados no Norte e Centro de Portugal permitiram obter um comprimento médio do antebraço (FA) de 34,35 milímetros e um peso de 7,87 gramas. 

Espécies similares

As várias características morfológicas distintivas deste morcego permitem a sua perfeita identificação, pois não é passível de ser confundido com outras espécies.

Como se caracteriza a sua ecolocalização

Caracteriza-se por ter uma frequência máxima de energia entre 30 a 35 kHz, pulsos longos de frequência constante ou modulada (aproximadamente 8 ms) e intervalo entre pulsos irregular normalmente superior a 200 ms, apresentando ainda uma maior amplitude no início do pulso.

Qual é a área de distribuição desta espécie

Na Europa, é mais ou menos comum nas regiões mediterrânicas e sub-mediterrânicas de Portugal, Espanha e França, ocorrendo de um forma mais esporádica na Suíça, Áustria, Norte da Hungria, assim como no Norte da Crimeia, Bulgária, Republica Checa, Eslováquia, sul da Grécia e nas ilhas mediterrânicas de Chipre e Sardenha. Em Portugal, a sua distribuição parece acompanhar as regiões montanhosas do Centro e Norte, podendo também ocorrer no Sul mas de uma forma mais pontual.

Habitat

O morcego-de-savi pode utilizar áreas desde o nível do mar até aos 3.300 metros de altitude, preferindo zonas rochosas e/ou montanhosas. Contudo, pode ainda utilizar uma maior diversidade de habitats, desde vales amplos e sem zonas rochosas a escarpas costeiras e montanhosas, assim como pequenos meios urbanos e habitats constituídos por um mosaico de pastagem, agricultura e matos. 

Como se reproduz

A informação disponível é ainda muito escassa para se poder traçar um perfil reprodutivo. Os poucos registos que existem sobre abrigos de criação referem-se a observações realizadas em Itália, onde foram encontradas colónias de criação sob telhas e em juntas de dilatação de edificações. Em Portugal parece ser uma espécie com reprodução tardia, havendo registos de criação em finais de julho e início de agosto.

… e do que se alimenta

Este morcego caça em voo preferencialmente alto (acima dos 100 metros) e em áreas abertas. Alimenta-se de lepidópteros, dípteros, hemípteros e neurópteros, podendo mais esporadicamente caçar a baixa altitude (entre 2 e 3 metros).

Mobilidade

Não existe informação sobre este aspeto biológico. Contudo, apesar de ser considerado uma espécie sedentária, supõe-se que este morcego possa realizar deslocações curtas. A distância máxima observada foi de 250 quilómetros.

Estatuto de conservação

De acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, esta espécie é classificada como tendo “Informação insuficiente” (DD), não existindo até à data informação adequada para avaliar corretamente o seu estatuto. Esta espécie encontra-se no Anexo B-IV da Diretiva Habitat, sendo de interesse comunitário, cuja conservação exige proteção rigorosa. Encontra-se ainda incluída nos anexos II da Convenção de Berna e Convenção de Bona.


Autoria: Paulo Barros

Paulo Barros é é membro da equipa do projeto do Livro Vermelho dos Mamiferos. É membro da equipa do Laboratório de Ecologia Aplicada (LEA) e investigador do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), nos domínios da ecologia e conservação da fauna em geral, com particular interesse no grupo dos quirópteros.

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