Toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus). Foto: David Perez/Wiki Commons

A trabalhar para saber como estão os nossos mamíferos

Espécies do Livro Vermelho: Curiosidades sobre a toupeira-de-água

A toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus) é uma espécie endémica da Península Ibérica e dos Pirinéus franceses, que pode ser encontrada nas bacias hidrográficas de vários rios portugueses.

Quanto medem e pesam

O comprimento deste mamífero, incluindo cabeça e corpo, varia entre 11 e 16 centímetros. Já a cauda mede 14 centímetros. Pesam entre 50 a 70 gramas.

O que comem

As toupeiras-de-água são insetívoras: alimentam-se sobretudo de macroinvertebrados aquáticos (larvas de insetos), crustáceos aquáticos e minhocas. Têm preferência pelas larvas de tricópteros, efémerópteros, plecópteros e dípteros. 

… e que animais é que os comem

O seu principal predador natural é a lontra (Lutra lutra), mas podem ser predadas oportunamente por aves de rapina, peixes e outros carnívoros. É de destacar o visão-americano (Neovison vison), uma espécie exótica e predador voraz cuja população se encontra em rápida expansão na área de distribuição da toupeira-de-água.

Onde vivem

Ocorrem exclusivamente nos cursos de água (corredor aquático e ripícola). Preferem cursos onde exista um fluxo regular de água durante todo o ano, água de corrente forte, límpida, de baixa temperatura, bem oxigenada, em troços com pouca profundidade e com abrigos naturais nas margens (sistemas radiculares, bancos de pedra, muros de pedra solta). Recolhem o alimento no leito do curso de água e abrigam-se nas cavidades naturais das margens. 

E por quantos anos

Aproximadamente três a quatro anos.

Quantas ninhadas têm por ano e quanto tempo dura a gestação

No mínimo, estes mamíferos têm uma ninhada por ano (podendo ter duas), com três a quatro crias por ninhada. Cada gestação dura aproximadamente 30 dias.

Quais são as estratégias de caça

As toupeiras-de-água caçam no leito do curso de água, revolvendo o substrato com as patas anteriores e detetando as presas com as vibrissas (pelos nos lados do focinho) e os órgãos de Eimer (papilas bulbosas situadas na epiderme da ponta do nariz), estruturas que usam também para se orientar no meio envolvente.

Onde se podem encontrar em Portugal

A espécie pode ser encontrada nas bacias hidrográficas dos rios Minho, Âncora, Lima, Neiva, Cávado, Ave e Leça, assim como nas principais sub-bacias do rio Douro, com exceção da ribeira de Teja, ribeira de Mós, ribeira de Aguiar, rios Côa e Águeda. Ocorre também nos troços médios e superiores das bacias dos rios Vouga e Mondego e nas cabeceiras do rio Zêzere.

O que nos fascina e surpreende nesta espécie

A toupeira-de-água é um endemismo da Península Ibérica e Pirenéus Franceses, que ocorre em menos de um terço da área da P. Ibérica. É uma espécie com estatuto de conservação desfavorável (Vulnerável), única no mundo, com uma área de distribuição muito reduzida e que ocorre em Portugal. Portanto, é com algum afeto e fascínio que devemos tratar esta espécie.

O facto de estar adaptada ecológica e biologicamente à água dos rios e ribeiros das montanhas e a sua sensibilidade à qualidade do habitat contribuem para restringir ainda mais a sua presença num mundo em constante alteração. É portanto uma das espécies de mamífero mais suscetíveis de se extinguirem num futuro próximo. É também um dos poucos mamíferos semiaquáticos presentes em Portugal, com adaptações evolutivas que lhe permitem particamente navegar de “olhos fechados” dentro de água. 

Qual é o seu papel na manutenção de ecossistemas saudáveis

Um dos papéis mais relevantes que a toupeira-de-água tem no equilíbrio dos ecossistemas é a sua posição nas cadeias tróficas dos cursos de água (especialmente nos cursos de áreas montanhosas), uma vez que se alimenta essencialmente de uma grande quantidade de larvas de insetos (devido à sua taxa metabólica elevada). Contribui deste modo para a redução populacional de algumas espécies que se poderão tornar pragas e de uma forma menos direta para uma melhoria da qualidade da água e do habitat nas secções de montante dos cursos de água.

Os seus requisitos ecológicos muito específicos tornam esta espécie num excelente bioindicador, quer da qualidade da água, quer do habitat envolvente dos cursos de água das regiões montanhosas (onde se localiza a maioria das captações de água para consumo), que de forma direta e indireta são afetados pelas atividades humanas.


Autoria: Luís Brás

Luís Braz é membro da equipa do projecto do Livro Vermelho dos Mamiferos. É investigador na equipa do Laboratório de Ecologia Aplicada (LEA) e no Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) nos domínios da ecologia e conservação da fauna em geral, com particular interesse nos grupos dos mamíferos semi aquáticos e dos quirópteros.

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